sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A chave do problema


Dia chatíssimo no trabalho, semana de relações estremecidas com o Marcio, meu namorado, ocasião perfeita para o afloramento da minha veia artística dramática mexicana. Enquanto dirigia e chorava, ia pensando: “Ainda bem que tenho pilates hoje, tô precisando respirar pausadamente. Quem sabe o oxigênio me entorpece e me tira desse mau humor dos infernos...”.

Depois de pegar um engarrafamento nada normal para aquele horário – fungando, enxugando as lágrimas e convencida de que aquilo era um complô para me tirar do sério –, cheguei em cima da hora da aula. Parei bem em frente à academia. Peguei as bolsas, escondi o que ia ficar no carro embaixo do banco. Fechei o carro com a chave dentro. O carro trancou sozinho.

Nesse momento, o fluxo dos meus pensamentos – que reproduzo a seguir – ficou meio confuso:

“Caralho, merda, isso tinha que acontecer HOJE? Eu sou muito idiota mesmo!”.

“Hum, mas eu tenho uma chave reserva. Tá lá em casa, na pasta branca que o Gui (meu pai. É, eu chamo meu pai de Gui) montou com toda a papelada do carro. No armário do quarto de televisão, tenho certeza”.

“Ah, quer saber?, vou fazer o pilates, depois vou em casa, pego a outra chave, volto e pego o carro”.

“Putz, a chave de casa tá dentro do carro!”.

“Putaquiupariu! A única outra chave lá de casa tá com o Marcio”.

Dadas as circunstâncias, fui obrigada a fazer a última coisa que eu queria: ligar pro Marcio.

- Marcio, você vem na academia hoje?
- Ahã.
- Agora?
- Já tô indo.
- Traz a minha chave.

Assim, curta e grossa, sem explicar nada. Ele deve ter pensado que eu estava terminando o namoro, sei lá. Dez minutos depois ele apareceu na academia. Sem a chave, que ele só foi buscar depois de esclarecida a situação. Fez questão de me acompanhar até em casa, apesar de eu ter saído andando na frente, pisando duro, sem olhar pra ele.

Chegando em casa, fui direto olhar no armário onde eu tinha certeza que a pasta do carro estava. E, adivinha só?, não estava lá. Em vez de bater a cabeça na parede, fui tomar um banho pra acalmar. Aí me lembrei: a chave só podia estar na casa da minha avó, onde eu morava antes, junto com umas outras pastas cheias de material da faculdade que, aliás, já deviam ter virado fogueira faz tempo.

Liguei pra minha avó e confirmei: a chave estava mesmo lá. Parêntese: eu e minha avó moramos relativamente perto da academia, mas em direções opostas. Sendo assim, eu tinha pela frente uma caminhada de mais de meia hora só pra ir. Pra completar, ia acabar perdendo o capítulo da novela em que iam matar a gêmea má. Droga! Fecha parêntese.

Eu disse que não precisava (com a delicadeza que me é peculiar), mas o Marcio fez questão de ir comigo. “É escuro, perigoso, Nana”, ele disse. Fomos fazendo as pazes pelo caminho e chegamos na casa da minha avó como se nunca tivéssemos brigado.

Meu namorado é um anjo; sou muito sortuda, eu sei. Isso é o que eu digo até arrumar algum outro motivo idiota pra brigar com ele. Quando isso acontecer, puxem a minha orelha, por favor; me façam lembrar deste episódio.

(Mesmo assim, resolvi fazer várias cópias da chave da minha casa e distribuí-las entre os amigos mais chegados. Por via das dúvidas...)

Ah! No fim da história, resgatamos o carro e fomos tomar um chopinho pra comemorar.

Pior que é

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sobre homens e bolsas


Acontece sempre: a moça sai de casa com a bolsa já abarrotada com seus próprios pertences de primeira necessidade. Carteira, chaves, documentos, batom, celular e a lotação da bolsinha já está esgotada – ninguém gosta de ir pra night de maxi-bolsa, né? Só que aí o namorado, ou aquele amigo folgado, pergunta se não dá pra guardar “só a chave, a carteira e o celular” na bolsa dela. E toca a tentar burlar a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Resultado: ele sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos, enquanto ela adquire uma escoliose tentando se equilibrar no salto com todo aquele peso.

É para acabar com essa injustiça que eu lanço aqui a campanha pela volta (e permanência) da moda de bolsas para homens. Sim, porque eu me lembro bem que quando eu era criança, homem usava bolsa. Os mais ripongas usavam umas de couro a tiracolo (meu pai era um), mas também tinha umas que pareciam carteiras grandes, as capangas (nome que eu achava muito engraçado na época). Tempos depois veio a moda das hediondas pochetes de Bali. Eram abomináveis, sim, mas atire a primeira pedra quem tem por volta dos 30 anos e não teve seu exemplar da bolsinha indonésia.



Sarah Kay e sua indefectível ankle boot


A verdade é que feio é tudo que não está na moda. Ou alguém usava ankle boots antes, além da Sarah Kay? Com tantos e tão talentosos designers de moda, não é possível que ninguém invente uma bolsa legal, que agrade os homens e que livre as mulheres de carregar as bugigangas deles. Hein, Gilson Martins? Hein, Joana Pegado? Hein, Alexandre Herchcovitch? O desafio está lançado. Homens de bolsa já!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Nos braços de Morfeu

[desenho do Weno]



Seis e meia da tarde. Sujeito encontra a namorada na academia. Namorada sai por alguns instantes da sala de pilates para dar um beijinho em Sujeito.

Sujeito: - Tô com saudade. Vamos nos ver mais tarde?
Namorada (já sabendo que Sujeito vai demorar mais que ela na academia): - Vamos sim. Me liga quando sair daqui.

Sete da noite. Namorada sai toda alongada e feliz da vida da academia. Era o primeiro dia de pilates depois de quase seis meses em que estivera afastada por falta de tempo ($). Chega em casa, toma um banho, prepara um suco e uma comidinha, alimenta-se, vai ver um pouco de TV.

Nove e meia da noite. Finalmente, Sujeito telefona.

Sujeito: - Oi, linda. Me desculpa, cheguei em casa, deitei um pouquinho e peguei no sono. Só acordei agora.
Namorada (ainda sob o efeito calmante do pilates): - Não tem problema. Quer vir aqui em casa?
Sujeito (aparentemente empolgado com a idéia): - Vou só trocar de roupa e estou indo.

Onze da noite. Sujeito ainda não chegou. Namorada começa a ficar preocupada. Afinal, Sujeito mora a dez minutos a pé da casa dela. Resolve telefonar para ver o que houve. Liga duas vezes e ninguém atende. Agora Namorada está realmente preocupada. Será que ele foi assaltado? Atropelado numa das duas ruas que ele tinha que atravessar pra chegar aqui? Pensamentos horríveis passam pela cabeça de Namorada.

Onze e meia. Namorada tenta ligar de novo. Dessa vez, Sujeito atende.

Sujeito (com voz de sono misturado com susto): – Alô.
Namorada: – O que aconteceu?!
Sujeito: - Dormi de novo... Desculpa, tô indo praí agora.
Namorada (incrédula, furiosa, irada, indignada): – Não! Você não vem mais, não.

Por que, meudeus, os homens fazem coisas assim? E como ainda conseguem achar tudo normal e pensar que não fizeram nada de mais?

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Você rói unhas? Vai se tratar!

Foi criado na Holanda o primeiro centro especializado no tratamento de onicofagia - o vício de roer as unhas. A clínica funciona na cidade de Venlo e espera receber pacientes do mundo todo. Estima-se que só na Holanda 2 milhões de pessoas tenham esse vício.

Segundo pesquisa, 45% dos adolescentes, 33% das crianças e 15% dos adultos são roedores compulsivos de unhas. E parece que o negócio funciona mesmo: 98% das pessoas que se submetem ao tratamento de quatro semanas conseguem parar.

Eu me pergunto: como será esse tratamento? Lá em casa, minha mãe começou oferecendo brindes para quem tivesse unhas para cortar. O método não funcionou e ela partiu pra uma estratégia mais pesada: comprou um esmalte com gosto ruim, passou nos sabugos das nossas unhas e disse que era 'esmalte de barata'. Traumatizou.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O dia em que o BR foi pro brejo




Apresentação do personagem central da história

Quando fiz 18 anos, ganhei do meu pai um BR-800, carrinho todo pequenininho que a Gurgel fabricava. Lindinho (quero deixar claro que não sou dessas pessoas nhém-nhém-nhém que falam tudo no diminutivo; quem já viu um BR-800 sabe: é MUITO pequeno), azul bebê, com um mini-volante, um mini-porta-luvas e até um mini-teto solar. Era guerreiro o BR: agüentou bem a viagem de Brasília a Viçosa (mais de mil quilômetros) e segurou o tranco com valentia na cidadezinha cheia de ruas de paralelepípedo e estradas de terra esburacadas.

Anos depois, meu pai trocou o carro dele e me deu o Monza que ele tinha. O BR ficou de herança pra Vivi, minha irmã, que também morava em Viçosa na época.


Prólogo

Férias de verão em Viçosa. Nessa época, minha irmã já era casada e morava num chalé no alto de um morro. Subia-se por uma estradinha muito íngreme, praticamente uma parede. Ela viajou com a família e deixou as chaves do chalé comigo. Eu tinha ficado em Viçosa para a formatura de vários amigos queridos, entre eles o Claudião – que viria a ser meu namorado e, alguns anos depois, ex-namorado (mas na ocasião eu ainda não sabia disso).

Abro um parêntese pra contar que formatura em Viçosa é um megaevento. A festa, que acontece no sábado, reúne todos os formandos de todos os cursos da universidade – alguns milhares de pessoas – e seus convidados. Comida e bebida à vontade até as 7 ou 8 da manhã, quando é servido o desjejum, que deixa o de muito hotel no chinelo. Depois disso, os participantes devem reunir as forças restantes para comparecer ao churrasco, realizado no domingo num lugar lindíssimo dentro da universidade, chamado de Recanto das Cigarras. O convescote começa com a chegada dos primeiros sobreviventes e dura até acabar toda a cerveja. Tudo de graça – para os convidados, claro; os formandos passam anos pagando suaves prestações pelo nababesco acontecimento. Resumindo: imperdível.



Recanto das Cigarras - foto do site da UFV


Coitado do BR

Mas então: a família do Claudião ia chegar em poucos dias para a formatura e o cabeça de vento não tinha reservado hotel para eles. Agora todas as vagas em hotéis já estavam reservadas. Como eu já conhecia a família – incrível, por sinal; depois do fim do namoro, senti mais falta deles que do namorado propriamente dito –, ofereci o chalé para a hospedagem.

Na véspera da chegada da família, fizemos uma feijoada no chalé. Depois, todos foram a uma festa e eu fiquei, para tomar banho e me arrumar. Depois encontraria o pessoal na cidade. Mas na hora de ir, ao ligar o meu carro, verifiquei que estava com muito pouca gasolina. Resolvi ir com o BR. Tirei o carro e saltei para fechar o portão. Deixei o BR ligado e, juro!, o freio de mão puxado. Quando estava fechando o portão, senti um movimento atrás de mim. Olhei e já era tarde demais: o BR estava descendo a ladeira a toda velocidade. Cruzou a rua de baixo, voou por cima do meio-fio, continuou descendo o morro de terra que vinha em seguida e parou quando bateu em uma árvore. Desci a ladeira atrás, praticamente rolando .

O acesso ao carro era difícil, mas eu consegui chegar até lá e fazer o que estava ao meu alcance no momento: desliguei o motor e peguei a chave. O terreno era íngreme, não tinha como subir de ré, e eu não tinha a menor idéia de onde conseguir um guincho em Viçosa àquela hora. Como diz a minha avó, o que não tem remédio remediado está. Subi a ladeira, peguei meu carro e fui pra festa.

Dormi na minha casa e só voltei ao chalé no dia seguinte. Chegando lá, dei de cara com a perplexa família do Claudião, olhando de boca aberta pro carro lá embaixo. Chamei um guincho que me custou (nunca vou me esquecer) 70 reais, preço muito acima do mercado de guinchos da cidade e uma fortuna para mim na época. Só me senti um pouco melhor quando o explorador dono do guincho enfiou a mão numa árvore cheia de espinhos no tronco. Bem feito!

Tive que agüentar muita gozação o fim de semana inteiro. E depois, durante os quatro anos em que namorei o Cláudio, fui obrigada a contar essa história muitas vezes, pra todos os membros da família que não tinham ido à formatura.

Epílogo

Como o BR é feito de fibra de vidro, em vez de amassar ele quebra. Nesse caso, o pára-choque ficou todo trincado. Levei uma merecida bronca da Vivi. O carrinho, coitado, nunca mais foi o mesmo – ainda passou um tempo com a Vivi e depois foi vendido. Não tenho idéia de quem foi o maluco que comprou.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O mundo está mais bonito hoje ou é impressão minha?

[ilustração do weno]


Ontem recebi uma notícia excelente: não vou mais ter que viajar na semana que vem! Isso significa que vou poder matar bem direitinho a saudade do meu amor! Aiai...

(Mas pra Catarina a novidade foi péssima, tadinha)