terça-feira, 25 de setembro de 2007

Coisas com as quais eu DETESTO gastar dinheiro

  • Despertador: Coisa mais escrota que o homem já inventou. Já falei do meu ódio a este estraga prazeres aqui.
  • Guarda-chuva: Tem coisa mais chata que chuva? Tem sim: guarda-chuva! Campeão nos balcões de achados e perdidos (por que será?).
  • Absorvente: Precisa comentar?
  • Produtos de limpeza: Já detesto ir ao supermercado, ainda mais com a lista da Graça (faxineira e furacão) na mão: água sanitária, Veja, detergente, desinfetante, sabão em pó... Argh!
  • Conserto de eletrodomésticos: E os meus estão todos contra mim. Isso porque eu não mencionei o som do carro... Ah! O disc man também pifou!
  • Manutenção do carro: Tá atrasada!
  • Remédio: Ninguém gosta de gastar com isso, né? E eu, ultimamente, tenho gasto mais do que nunca... É a idade? - perguntarão vocês. Que nada! Aguardem explicações sobre esse tópico.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O dia em que eu fui na minha primeira festa de música eletrônica


Eu admito: tinha o maior preconceito. Mas, no fim das contas, até gostei. O lugar era bacanérrimo e eles passavam umas projeções mutcho doidas na parede. A música eu continuo achando chata. Mesmo assim, dancei até o dia raiar e voltei pra casa feliz da vida. Ponto pro Marcio!

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A chave do problema


Dia chatíssimo no trabalho, semana de relações estremecidas com o Marcio, meu namorado, ocasião perfeita para o afloramento da minha veia artística dramática mexicana. Enquanto dirigia e chorava, ia pensando: “Ainda bem que tenho pilates hoje, tô precisando respirar pausadamente. Quem sabe o oxigênio me entorpece e me tira desse mau humor dos infernos...”.

Depois de pegar um engarrafamento nada normal para aquele horário – fungando, enxugando as lágrimas e convencida de que aquilo era um complô para me tirar do sério –, cheguei em cima da hora da aula. Parei bem em frente à academia. Peguei as bolsas, escondi o que ia ficar no carro embaixo do banco. Fechei o carro com a chave dentro. O carro trancou sozinho.

Nesse momento, o fluxo dos meus pensamentos – que reproduzo a seguir – ficou meio confuso:

“Caralho, merda, isso tinha que acontecer HOJE? Eu sou muito idiota mesmo!”.

“Hum, mas eu tenho uma chave reserva. Tá lá em casa, na pasta branca que o Gui (meu pai. É, eu chamo meu pai de Gui) montou com toda a papelada do carro. No armário do quarto de televisão, tenho certeza”.

“Ah, quer saber?, vou fazer o pilates, depois vou em casa, pego a outra chave, volto e pego o carro”.

“Putz, a chave de casa tá dentro do carro!”.

“Putaquiupariu! A única outra chave lá de casa tá com o Marcio”.

Dadas as circunstâncias, fui obrigada a fazer a última coisa que eu queria: ligar pro Marcio.

- Marcio, você vem na academia hoje?
- Ahã.
- Agora?
- Já tô indo.
- Traz a minha chave.

Assim, curta e grossa, sem explicar nada. Ele deve ter pensado que eu estava terminando o namoro, sei lá. Dez minutos depois ele apareceu na academia. Sem a chave, que ele só foi buscar depois de esclarecida a situação. Fez questão de me acompanhar até em casa, apesar de eu ter saído andando na frente, pisando duro, sem olhar pra ele.

Chegando em casa, fui direto olhar no armário onde eu tinha certeza que a pasta do carro estava. E, adivinha só?, não estava lá. Em vez de bater a cabeça na parede, fui tomar um banho pra acalmar. Aí me lembrei: a chave só podia estar na casa da minha avó, onde eu morava antes, junto com umas outras pastas cheias de material da faculdade que, aliás, já deviam ter virado fogueira faz tempo.

Liguei pra minha avó e confirmei: a chave estava mesmo lá. Parêntese: eu e minha avó moramos relativamente perto da academia, mas em direções opostas. Sendo assim, eu tinha pela frente uma caminhada de mais de meia hora só pra ir. Pra completar, ia acabar perdendo o capítulo da novela em que iam matar a gêmea má. Droga! Fecha parêntese.

Eu disse que não precisava (com a delicadeza que me é peculiar), mas o Marcio fez questão de ir comigo. “É escuro, perigoso, Nana”, ele disse. Fomos fazendo as pazes pelo caminho e chegamos na casa da minha avó como se nunca tivéssemos brigado.

Meu namorado é um anjo; sou muito sortuda, eu sei. Isso é o que eu digo até arrumar algum outro motivo idiota pra brigar com ele. Quando isso acontecer, puxem a minha orelha, por favor; me façam lembrar deste episódio.

(Mesmo assim, resolvi fazer várias cópias da chave da minha casa e distribuí-las entre os amigos mais chegados. Por via das dúvidas...)

Ah! No fim da história, resgatamos o carro e fomos tomar um chopinho pra comemorar.

Pior que é

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Sobre homens e bolsas


Acontece sempre: a moça sai de casa com a bolsa já abarrotada com seus próprios pertences de primeira necessidade. Carteira, chaves, documentos, batom, celular e a lotação da bolsinha já está esgotada – ninguém gosta de ir pra night de maxi-bolsa, né? Só que aí o namorado, ou aquele amigo folgado, pergunta se não dá pra guardar “só a chave, a carteira e o celular” na bolsa dela. E toca a tentar burlar a lei da física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo. Resultado: ele sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos, enquanto ela adquire uma escoliose tentando se equilibrar no salto com todo aquele peso.

É para acabar com essa injustiça que eu lanço aqui a campanha pela volta (e permanência) da moda de bolsas para homens. Sim, porque eu me lembro bem que quando eu era criança, homem usava bolsa. Os mais ripongas usavam umas de couro a tiracolo (meu pai era um), mas também tinha umas que pareciam carteiras grandes, as capangas (nome que eu achava muito engraçado na época). Tempos depois veio a moda das hediondas pochetes de Bali. Eram abomináveis, sim, mas atire a primeira pedra quem tem por volta dos 30 anos e não teve seu exemplar da bolsinha indonésia.



Sarah Kay e sua indefectível ankle boot


A verdade é que feio é tudo que não está na moda. Ou alguém usava ankle boots antes, além da Sarah Kay? Com tantos e tão talentosos designers de moda, não é possível que ninguém invente uma bolsa legal, que agrade os homens e que livre as mulheres de carregar as bugigangas deles. Hein, Gilson Martins? Hein, Joana Pegado? Hein, Alexandre Herchcovitch? O desafio está lançado. Homens de bolsa já!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Nos braços de Morfeu

[desenho do Weno]



Seis e meia da tarde. Sujeito encontra a namorada na academia. Namorada sai por alguns instantes da sala de pilates para dar um beijinho em Sujeito.

Sujeito: - Tô com saudade. Vamos nos ver mais tarde?
Namorada (já sabendo que Sujeito vai demorar mais que ela na academia): - Vamos sim. Me liga quando sair daqui.

Sete da noite. Namorada sai toda alongada e feliz da vida da academia. Era o primeiro dia de pilates depois de quase seis meses em que estivera afastada por falta de tempo ($). Chega em casa, toma um banho, prepara um suco e uma comidinha, alimenta-se, vai ver um pouco de TV.

Nove e meia da noite. Finalmente, Sujeito telefona.

Sujeito: - Oi, linda. Me desculpa, cheguei em casa, deitei um pouquinho e peguei no sono. Só acordei agora.
Namorada (ainda sob o efeito calmante do pilates): - Não tem problema. Quer vir aqui em casa?
Sujeito (aparentemente empolgado com a idéia): - Vou só trocar de roupa e estou indo.

Onze da noite. Sujeito ainda não chegou. Namorada começa a ficar preocupada. Afinal, Sujeito mora a dez minutos a pé da casa dela. Resolve telefonar para ver o que houve. Liga duas vezes e ninguém atende. Agora Namorada está realmente preocupada. Será que ele foi assaltado? Atropelado numa das duas ruas que ele tinha que atravessar pra chegar aqui? Pensamentos horríveis passam pela cabeça de Namorada.

Onze e meia. Namorada tenta ligar de novo. Dessa vez, Sujeito atende.

Sujeito (com voz de sono misturado com susto): – Alô.
Namorada: – O que aconteceu?!
Sujeito: - Dormi de novo... Desculpa, tô indo praí agora.
Namorada (incrédula, furiosa, irada, indignada): – Não! Você não vem mais, não.

Por que, meudeus, os homens fazem coisas assim? E como ainda conseguem achar tudo normal e pensar que não fizeram nada de mais?

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Você rói unhas? Vai se tratar!

Foi criado na Holanda o primeiro centro especializado no tratamento de onicofagia - o vício de roer as unhas. A clínica funciona na cidade de Venlo e espera receber pacientes do mundo todo. Estima-se que só na Holanda 2 milhões de pessoas tenham esse vício.

Segundo pesquisa, 45% dos adolescentes, 33% das crianças e 15% dos adultos são roedores compulsivos de unhas. E parece que o negócio funciona mesmo: 98% das pessoas que se submetem ao tratamento de quatro semanas conseguem parar.

Eu me pergunto: como será esse tratamento? Lá em casa, minha mãe começou oferecendo brindes para quem tivesse unhas para cortar. O método não funcionou e ela partiu pra uma estratégia mais pesada: comprou um esmalte com gosto ruim, passou nos sabugos das nossas unhas e disse que era 'esmalte de barata'. Traumatizou.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

O dia em que o BR foi pro brejo




Apresentação do personagem central da história

Quando fiz 18 anos, ganhei do meu pai um BR-800, carrinho todo pequenininho que a Gurgel fabricava. Lindinho (quero deixar claro que não sou dessas pessoas nhém-nhém-nhém que falam tudo no diminutivo; quem já viu um BR-800 sabe: é MUITO pequeno), azul bebê, com um mini-volante, um mini-porta-luvas e até um mini-teto solar. Era guerreiro o BR: agüentou bem a viagem de Brasília a Viçosa (mais de mil quilômetros) e segurou o tranco com valentia na cidadezinha cheia de ruas de paralelepípedo e estradas de terra esburacadas.

Anos depois, meu pai trocou o carro dele e me deu o Monza que ele tinha. O BR ficou de herança pra Vivi, minha irmã, que também morava em Viçosa na época.


Prólogo

Férias de verão em Viçosa. Nessa época, minha irmã já era casada e morava num chalé no alto de um morro. Subia-se por uma estradinha muito íngreme, praticamente uma parede. Ela viajou com a família e deixou as chaves do chalé comigo. Eu tinha ficado em Viçosa para a formatura de vários amigos queridos, entre eles o Claudião – que viria a ser meu namorado e, alguns anos depois, ex-namorado (mas na ocasião eu ainda não sabia disso).

Abro um parêntese pra contar que formatura em Viçosa é um megaevento. A festa, que acontece no sábado, reúne todos os formandos de todos os cursos da universidade – alguns milhares de pessoas – e seus convidados. Comida e bebida à vontade até as 7 ou 8 da manhã, quando é servido o desjejum, que deixa o de muito hotel no chinelo. Depois disso, os participantes devem reunir as forças restantes para comparecer ao churrasco, realizado no domingo num lugar lindíssimo dentro da universidade, chamado de Recanto das Cigarras. O convescote começa com a chegada dos primeiros sobreviventes e dura até acabar toda a cerveja. Tudo de graça – para os convidados, claro; os formandos passam anos pagando suaves prestações pelo nababesco acontecimento. Resumindo: imperdível.



Recanto das Cigarras - foto do site da UFV


Coitado do BR

Mas então: a família do Claudião ia chegar em poucos dias para a formatura e o cabeça de vento não tinha reservado hotel para eles. Agora todas as vagas em hotéis já estavam reservadas. Como eu já conhecia a família – incrível, por sinal; depois do fim do namoro, senti mais falta deles que do namorado propriamente dito –, ofereci o chalé para a hospedagem.

Na véspera da chegada da família, fizemos uma feijoada no chalé. Depois, todos foram a uma festa e eu fiquei, para tomar banho e me arrumar. Depois encontraria o pessoal na cidade. Mas na hora de ir, ao ligar o meu carro, verifiquei que estava com muito pouca gasolina. Resolvi ir com o BR. Tirei o carro e saltei para fechar o portão. Deixei o BR ligado e, juro!, o freio de mão puxado. Quando estava fechando o portão, senti um movimento atrás de mim. Olhei e já era tarde demais: o BR estava descendo a ladeira a toda velocidade. Cruzou a rua de baixo, voou por cima do meio-fio, continuou descendo o morro de terra que vinha em seguida e parou quando bateu em uma árvore. Desci a ladeira atrás, praticamente rolando .

O acesso ao carro era difícil, mas eu consegui chegar até lá e fazer o que estava ao meu alcance no momento: desliguei o motor e peguei a chave. O terreno era íngreme, não tinha como subir de ré, e eu não tinha a menor idéia de onde conseguir um guincho em Viçosa àquela hora. Como diz a minha avó, o que não tem remédio remediado está. Subi a ladeira, peguei meu carro e fui pra festa.

Dormi na minha casa e só voltei ao chalé no dia seguinte. Chegando lá, dei de cara com a perplexa família do Claudião, olhando de boca aberta pro carro lá embaixo. Chamei um guincho que me custou (nunca vou me esquecer) 70 reais, preço muito acima do mercado de guinchos da cidade e uma fortuna para mim na época. Só me senti um pouco melhor quando o explorador dono do guincho enfiou a mão numa árvore cheia de espinhos no tronco. Bem feito!

Tive que agüentar muita gozação o fim de semana inteiro. E depois, durante os quatro anos em que namorei o Cláudio, fui obrigada a contar essa história muitas vezes, pra todos os membros da família que não tinham ido à formatura.

Epílogo

Como o BR é feito de fibra de vidro, em vez de amassar ele quebra. Nesse caso, o pára-choque ficou todo trincado. Levei uma merecida bronca da Vivi. O carrinho, coitado, nunca mais foi o mesmo – ainda passou um tempo com a Vivi e depois foi vendido. Não tenho idéia de quem foi o maluco que comprou.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O mundo está mais bonito hoje ou é impressão minha?

[ilustração do weno]


Ontem recebi uma notícia excelente: não vou mais ter que viajar na semana que vem! Isso significa que vou poder matar bem direitinho a saudade do meu amor! Aiai...

(Mas pra Catarina a novidade foi péssima, tadinha)

segunda-feira, 30 de julho de 2007

My baby just cares for me

I hope so! I just care for him.

Dilúvio

[ilustração do weno]


Eu estava num ônibus, acompanhada de alguns amigos que na verdade não se conhecem, mas no sonho se conheciam. A Loli, minha prima, estava na poltrona ao meu lado. Também estavam no veículo a Ana e a Catarina – amigas do trabalho – as minhas irmãs Dani e Vivi, minha avó Liane, o Maranhão e o Claudião – amigos de Viçosa que eu não vejo há anos. Só me lembro desses, mas tenho a impressão de que todos os ocupantes daquele ônibus eram meus amigos.

A viagem corria tranqüila, quando começou a chover muito. O dilúvio se transformou numa enxurrada, que atingiu o ônibus e o empurrou numa velocidade de montanha-russa. Eu só conseguia me preocupar com as minhas malas no compartimento de bagagem. “Droga, minhas roupas devem estar todas manchadas”, pensei.

Acordei, tudo escuro. Olhei no relógio: 5h30. Voltei a dormir.

Eu, Loli, Ana, Catarina, Dani, Vivi, minha vó, Maranhão, Claudião e os outros amigos estamos numa pracinha de cidade do interior. Parece que choveu muito por ali – o coreto está alagado, as ruas de terra viraram lama e a grama faz chuin-chuin quando pisamos nela. O ônibus sumiu. Resolvemos tomar uma cerveja e comer chocolate Nestlé com pedaços de cacau enquanto esperamos ele reaparecer. Fim.

Esse sonho não faria sentido nenhum normalmente. Acontece que estão querendo me mandar numa viagem de trabalho de dois dias de imersão no mundo da chatice. Pra piorar, essa viagem está programada para segunda que vem. No domingo à noite o M, meu namorado, chega de volta no Rio, depois de três semanas de férias no Nordeste. Não vai dar pra matar a saudade em uma noite!

Acho que vou usar esse sonho premonitório como desculpa para não ir... Será que cola?

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Perfil do consumidor

[Manacá - Tarsila do Amaral]


Se fosse uma flor – manacá
Se fosse um brinquedo – boneca
Se fosse um mês – janeiro
Se fosse uma brincadeira – de médico
Se fosse uma nota musical – sol
Se fosse uma cor – vermelho
Se fosse um filme – Peixe Grande
Se fosse um feriado – ano-novo
Se fosse uma comida – moqueca
Se fosse uma bebida – chope
Se fosse um disco – Fashion Nugget (Cake)
Se fosse uma música – Rehab
Se fosse um dia da semana – sexta-feira!
Se fosse um periférico do PC – teclado
Se fosse um doce – chocolate
Se fosse um programa de TV – novela
Se fosse um canal de TV – Cartoon
Se fosse um cômodo da casa – varanda
Se fosse um instrumento – flauta
Se fosse um objeto – livro
Se fosse uma árvore – ipê amarelo
Se fosse uma fruta – morango
Se fosse uma paisagem – praia
Se fosse um bicho – onça
Se fosse um lugar – Búzios
Se fosse uma estação do ano – verão
Se fosse uma frase feita – “Não me lembro de ter ido pra cama. Mas quando acordei, estava lá” (Charles Bukowski)
Se fosse uma peça de roupa – vestido
Se fosse um elemento da natureza – fogo
Se fosse um aparelho eletrônico – som
Se fosse uma pessoa da sua família – eu
Se fosse um sentimento – paixão
Se fosse um perfume – Roger Gallet de gengibre
Se fosse um livro – História do rei transparente (Rosa Montero)
Se fosse uma parte do corpo – olhos
Se fosse uma pedra – rubi
Se fosse uma dúvida – que que eu faço agora?
Se fosse uma marca – Totem
Se fosse um jogo – War


Roubei do blog da Bia. Com o consentimento dela, é claro!

Proibido?


Com a confusão do Pan, caminhões estão proibidos de circular na Linha Amarela nos horários de maior movimento. Isso é o que dizem as placas e faixas ao longo da via. Entretanto, continuo vendo esses trambolhos lerdos toda vez que passo por lá. Hoje, um deles parou atrás de mim na fila do pedágio (que, aliás, continua sendo embolsado integralmente... podiam, pelo menos, cobrar meio pedágio, já que é pra passar na metade da pista!). Na minha vez de pagar, perguntei pro tiozinho da cabine:


- Moço, caminhões não estão proibidos de passar por aqui nesse horário?
- Estão sim. Até as 9h30.
- Tem um caminhão enorme bem atrás de mim. O senhor também está vendo ou estou tendo alucinações?
- É, tem sim. Tá se arriscando a tomar uma multa.
- Mas o senhor vai fazer o quê? Cobrar o pedágio dele e deixar ele passar?
- É, né? O que que eu posso fazer?
- Não deixar ele passar, ué! É só não abrir a cancela e ele vai ter de voltar.
- Mas eu não tenho poder de polícia pra multar...
- Então não deixa ele passar e chama a polícia!


E deixar de receber os pedágios mais caros? Dependendo do tamanho, um caminhão pode pagar até 21 reais de taxa. Rá! Até parece...

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Cafona

Outro dia, reclamaram da roupa que eu usei num evento com um ministro americano no trabalho. Me acharam "esculhambada". O engraçado é que eu tinha ido a uma reunião com cinco ministros africanos - há poucos meses e no mesmo lugar - usando a mesma saia e ninguém disse nada. Entendi! Tudo bem receber os africanos "esculhambada", mas o americano? De jeito nenhum!

Como sempre, contam o milagre sem dizer o nome do santo. Mas eu tenho sérias desconfianças de que a reclamação só pode ter vindo de uma das duas pessoas que descrevo a seguir:

1) Senhoura de cerca de 50 anos que se veste como a Barbie, com direito a bota rosa até o joelho e tudo (juro!). Já para os cabelos, adota um visual mais parecido com Luis XIV, o rei sol – ou Capitão Gancho, se preferirem, mas em tom cenoura.
2) Mulher na casa dos 30, acima do peso, cabelos artificialmente loiros e esticados até o limite. Não tem a menor noção do que cai bem com seu tipo físico. E tem bafo!

Eu mereço!

sábado, 21 de julho de 2007

Propaganda na cara-de-pau

A Catarina me convidou e eu não tive dúvidas: aceitei. Sempre rimos muito com as notícias bizarras ou mal escritas - ou as duas coisas - que vemos na mídia quase todos os dias. A Cata sugeriu montar um blogue para falar dessas pérolas do jornalismo e eu achei a idéia excelente. O espaço se chama Deu na imprensa. Dá lá uma olhada!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Sereia

A minha sobrinha de oito anos foi junto, no dia de fazer o desenho e no dia de tatuar. No dia que o Reche ia fazer o desenho, chegamos lá e ele estava desenhando uma sereia. A minha sobrinha disse pra ele:
- Sabia que eu tenho nome de sereia?

Na sexta, quando chegamos no horário marcado, ele tinha pintado uma sereia em aquarela pra ela. Lindo mesmo, digno de pôr moldura e pendurar na parede. Atitude fofa da parte dele, recompensada com vários beijinhos de agradecimento.

Tatuagem

Deixei pra contar o melhor da viagem no final. Fiz uma tatuagem nova! Aproveitei minha ida a Brasília pra aplacar a crise de abstinência que me consumia. Há muito tempo eu não fazia nenhuma tatuagem – quem é adepto sabe: esse troço vicia! Além disso, eu já estava começando a ficar com medo da maldição das tatuagens em número par. Há uns dez anos eu circulava por aí ostentando oito tatuagens, o que, dizem, dá um azar danado. Não que eu me sentisse azarada antes, mas vai saber?

Na quarta-feira fomos ao estúdio pra ir adiantando o desenho. Expliquei pro Reche, que é quem faz os desenhos, mais ou menos o que eu queria. E ele acertou de primeira, já fez logo de cara exatamente o que eu estava imaginando. Desenho pronto, ansiedade a mil!

O horário com o Rogélio (o nome dele é assim mesmo, com “L”) – tatuador oficial das irmãs Melo Resende – já tinha sido marcado com bastante antecedência pela Vivi. Apesar disso, tomamos um dos tradicionais bolos com que o Rogélio insiste em nos brindar. A tattoo, que estava marcada pra quinta, acabou ficando pra sexta – então, a partir desse ano, todo dia 6 de julho será comemorado o aniversário da minha tatuagem caçula. É a mais novinha mas é, de longe, a maior de todas.

No dia mais esperado, tudo pronto: pelinhos raspados, desenho aplicado na pele, Rogélio de luvas e máscara. Hora de começar! Minha sobrinha (que acompanhou todo o processo) fez, no começo, uma cara aflita. E olha que quase nem saiu sangue! Como a tattoo é bem grande, dessa vez só deu pra fazer o contorno. Não doeu, mas já sei que, quando eu for pintar, a história vai ser bem diferente.

Já tenho uma ótima desculpa pra voltar em Brasília muito em breve.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Brasília


A ida a Brasília foi excelente, apesar de seu objetivo primordial – a operação – não ter sido realizado. Uma semana de férias (urrú!!!!!!) com atestado médico. Deu pra matar a saudade dos meus queridíssimos pais, da minha irmã amada, da sobrinha (Linda! Fofa! Cut-cut da titia!), do cunhadão, da Marli e sua maravilhosa comida (o feijão da Marli... gente, vocês não fazem idéia do que é o feijão da Marli!).

Também aproveitei pra ver os amigos fanfarrões lá da capital. Danizinha, Tubarão e Zé quase me mataram de rir no velho Beirute de guerra. Até churrasquinho no clube rolou. Terra boa essa, Brasília! Já tinha até me esquecido de como eu gosto de lá.

O caso da não-operação

Fui pra Brasília operar a miopia e... não operei! Um exame constatou que a córnea do meu olho direito não tem espessura suficiente. Tudo por causa de alguns micrômetros a menos. Um micrômetro é igual a 0,000001 metro, ou seja, um pentelhésimo. O dr. Vicente me explicou que, se eu fizesse a cirurgia, não daria para “zerar” a miopia. Portanto, eu passaria por todo o horror de assistir enquanto cortavam meu olho, tudo isso pra continuar com 2 graus no olho direito. Ou seja, de óculos.

Frustrante. Mas algumas soluções paliativas foram encontradas. Meu pai, penalizado com a minha situação, foi comigo numa ótica escolher óculos novos. A armação, chiquérrima, é Azzaro. Somando com as lentes superultramegaplus, que são finas e anti-reflexo, o preço dos óculos foi praticamente o mesmo que custaria a cirurgia. Mas sabe que eu estou até me achando bonitinha com os óculos?

Além disso, o dr. Vicente me deu a melhor notícia possível, dadas as circunstâncias (eu achando que teria que usar óculos para todo o sempre): existe um tipo de lente de contato que eu posso usar! São lentes rígidas, que não passam nem perto do conforto que eu tinha com as minhas gelatinosas. A sensação é parecida com a que eu imagino que teria se, subitamente, todos os cílios caíssem dentro dos olhos. Mas, se não tem outro jeito...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Pânico, pandemônio, pantomima, pandorga, pandilha

[ilustração: Malvados]


Desde o começo da semana, tenho levado 1h30 pra percorrer o mesmo caminho em que antes demorava, no máximo, meia hora. É que a panaca aqui passa pela Linha Amarela pra ir trabalhar. E a Linha Amarela, que já fica engarrafada normalmente, agora tem uma faixa a menos. Desde segunda-feira uma das três faixas da avenida é dedicada exclusivamente à família panelinha. Pelo visto, vou ter que acordar duas horas mais cedo (como se eu fosse capaz dessa façanha...). E gastar, em quinze dias, o triplo da gasolina que costumo consumir em um mês. Francamente, família Pan é o cacete!

E o pior é que eles têm a cara de pau de continuar cobrando pedágio. São R$ 3,50 pra ir, mais R$ 3,50 pra voltar. Isso pra trafegar por uma rua onde você não consegue passar a segunda marcha. São uns pândegos, mesmo!

Quando começaram a falar do Pan-2007 no Rio, a idéia era construir metrô de superfície passando pela Linha Amarela. Obviamente, o projeto não saiu do papel. Arranjassem, então, helicópteros pra levar os atletas, técnicos, organizadores e agregados. Mas a política escolhida foi mesmo a do “Se fode aí, galera! Vocês, que não são nada do Pan, podem ralar o cu na ostra”.

Quer saber? Tô torcendo é pra desabar alguma coisa. Espero que seja o evento mais pangaré da história. Com muita pane e pancadaria. Uma verdadeira panfobia.Vai ser lindo de ver. Panem et circenses!

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Incorrigíveis

[ilustração do weno]



Gente, olha a Vivi aí de novo (sempre ela) rendendo boas histórias! O Brunão, meu cunhado, conseguiu perder mais um vôo ontem. Foi assim: a Vivi deixou o Bruno no aeroporto às 11:30 – pontualidade britânica – pra pegar um vôo às 12:30 pra Rondônia. Missão cumprida, não esperou o embarque. Tinha que pegar a filha na escola e chegar a tempo de filar a bóia na casa dos meus pais (que também são os dela).

Pois bem. Chegando lá, foi pegar as malas de roupa suja no porta-malas. (É que além de filar o rango, a folgada também lava a roupa lá na pensão). E... deu de cara com a mala do Bruno!
Ligou pro celular dele pra saber se ainda dava tempo de levar a bagagem no aeroporto. Ele não só não tinha sentido falta da mala como estava dentro de um táxi a caminho de casa: tinha perdido o avião - 12:30 não era o horário da decolagem, mas a hora prevista para a chegada em Porto Velho!

Êta povinho desligado!

Vivi, copiei descaradamente trechos do seu e-mail. Mas é que tava tão engraçado que deu vontade de postar ele aqui todinho. Ô, preguiça!

terça-feira, 26 de junho de 2007

Pela volta da Luluzinha

Ontem me dei conta de que nunca mais vi um gibi da Luluzinha. Fui até um jornaleiro investigar e me informaram que há muito tempo a Lulu e o Bolinha sumiram das bancas. Como eu não percebi isso antes? Foi aí que me deu uma vontade incontrolável de ler as tais revistinhas. Decidi começar uma campanha pela volta da Luluzinha!

Quando eu era criança, lia muita revistinha. Teve uma época em que meus pais foram obrigados a encerrar uma conta que tinham na banca perto de casa porque eu pegava TODOS os gibis. Imagino a fortuna que eles desembolsavam. Mônica, Cebolinha, Cascão, Chico Bento – ainda não existia gibi da Magali –, Pato Donald, Mickey, Tio Patinhas, Zé Carioca, mais a Luluzinha e o Bolinha. Todo mês!


Acho que herdei esse gosto do meu pai. Já grandinha, descobri lá no alto da estante uns gibis muito maneiros – parece que ele tinha um pouco de ciúme das revistinhas dele, com toda a razão. Encadernados em capa dura, formato grande, se chamavam simplesmente Gibi. Neles havia historinhas de vários personagens. Uns que eu nem gostava tanto, tipo Homem Aranha e Mandrake . E muitos que eu adorava: Fantasma, Betty Boop, Recruta Zero, Peanuts, Lucky Luke, Annie, Hagar. Mas eu lia todos.



O Gui (meu pai) também tinha dois livros fantásticos da Turma do Pererê (do Ziraldo), que eu li umas cem vezes cada um. Me lembro nitidamente de um episódio sobre uma festa junina. As meninas, Tuiuiú e Boneca, faziam uma simpatia – cravando uma faca na bananeira – pra descobrir com quem iriam se casar.
Compro revistinha até hoje, de vez em quando, mas só as da Turma da Mônica – a moça da banca, que me olhava com uma cara meio engraçada, até já se acostumou. Não tem coisa melhor pra ler no banheiro. Por isso fiquei um pouco culpada de não ter sentido falta da Luluzinha antes. Minha amiga de infância, pô!

Me deu uma saudade súbita da Aninha, do Careca, da dona Marocas, do pai da Lulu (será que ele se chamava Palhares? acho que sim), do Clube do Bolinha – onde menina não entrava – , do Alvinho, da Alcéia e da Meméia, do Plínio, da Glorinha, do Seu Miguel, inspetor da escola que corria atrás dos meninos que cabulavam aula. Aliás, esse verbo, cabular, eu só vi nas revistinhas da Lulu. Por que será que pararam de editar essa maravilha?

A campanha está lançada. Se voltarem a publicar o gibi, me comprometo a comprá-lo todo mês. Viu, editora Abril?


segunda-feira, 25 de junho de 2007

Os cinco estágios de uma girafa na areia movediça

Me identifiquei com essa girafa...

Máquina de fazer doido


Meu pai diz que televisão é máquina de fazer doido. Devido a essa filosofia paterna, não tínhamos TV em casa até os meus 12 anos. Isso em muito contribuiu com a minha atroz timidez na infância e pré-adolescência. Afinal, em meio a crianças televisivas no começo da era dos programas infantis comandados por louras, eu não podia dar muito pitaco em conversas relacionadas a desenhos animados. Não tinha idéia se a Xuxa batia ou não nas crianças que faziam figuração no programa, não sabia os jingles de propagandas, quais eram os últimos lançamentos em brinquedos, nem jogava videogame (Atari, lembram?). Só de férias na casa da vovó Liane, duas vezes por ano, é que eu e minhas irmãs nos interávamos desses assuntos.

Em compensação, nunca quis ser paquita nem entrar na nave da Xuxa. Em vez disso lia, lia muito. Ruth Rocha, Ana Maria e Maria Clara Machado, Lygia Bojunga, Zélia Gattai, Luis Fernando Veríssimo, José Lins do Rego, Alexandre Dumas, Maurice Druon, Coleção Vaga-Lume, João Carlos Marinho, Monteiro Lobato, Fernando Sabino, toda a coleção de Agatha Christie da minha mãe, as crônicas do Drummond, Jorge Amado, revistinhas da Mônica, Luluzinha, Pato Donald e tudo mais que caísse na minha mão. Lá em casa, nunca se economizou com livros.

Até que um dia, a máquina de fazer doido chegou. Foi aí que começou a minha mania de novelas. Via todas, inclusive a que passava de tarde – dessa, geralmente, só via o começo, esparramada na cama dos meus pais, pra puxar um soninho.

Na época de Viçosa, me afastei da TV. Tinha coisa muito melhor pra fazer. Aí me mudei pro Rio. No começo, morando na casa da minha vó, nova evolução: TV a cabo. Novos vícios: Friends, Sex and the City, Lost, Simpsons, Gilmore Girls, programas de decoração e culinária do GNT e People and Arts… Hoje em dia, morando sozinha, não tenho mais TV a cabo. Não admito pagar pra ver televisão.

Mas, com ou sem máquina de fazer doido, nunca abandonei meu vício pelos livros, que faz rombos nos meus bolsos. Mas é um dinheiro bem gasto, fundamental para preservar minha saúde mental. Estou sempre lendo pelo menos um e tenho uma reserva grande de livros ainda não lidos, pra não ter crise de abstinência. Aos autores já citados, juntaram-se na minha biblioteca Bukowski, a maravilhosa Rosa Montero, Pedro Juan Gutièrrez, Mario Vargas Llosa (que descobri recentemente, lendo o belíssimo Travessuras da Menina Má), Nelson Rodrigues, Patrícia Melo, Chico Buarque, Rubem Fonseca, Erico Veríssimo, Milan Kundera, Umberto Eco, Moacyr Scliar, Cony, Oscar Wilde, Ken Follet, uma lista que não acaba mais.

Será que se eu tivesse visto TV na infância meu amor pelos livros seria menor? Não sei. Talvez eu não fosse a fã número um da Ruth Rocha. Mas gosto de pensar que eu seria uma leitora compulsiva de qualquer jeito.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Complicada e nada, nada perfeitinha

Como diz a música, é tão bom não ser divina! Mas eu, como boa ariana – não que eu acredite em horóscopo, mas se a descrição de áries sou euzinha, que é que eu posso fazer? – , tendo a reparar muito mais nas minhas qualidades (que são muitas) do que na minha imensa coleção de defeitos. Por isso, para treinar a minha quase inexistente modéstia, resolvi escrever sobre as minhas características, digamos, não tão positivas assim.

Sou nervosinha, intolerante. Desconto todas as frustrações nas pessoas mais próximas. As mais queridas e que eu tenho certeza que vão perdoar meus arroubos de chatice sofrem com as minhas explosões. Inconseqüente, faço e falo, só depois penso. Tenho um talento teatral não descoberto. Por isso, sempre que há oportunidade faço um drama com problemas facilmente contornáveis, ridículos mesmo.

Muito bagunceira, só arrumo as tralhas quando a bagunça começa a me incomodar. Só que o nível de bagunça que me incomoda está muito acima do que apavora a maioria das outras pessoas. A Graça, faxineira milagrosa, está com problemas de saúde na família e há duas semanas não aparece. Adivinha se eu me cocei pra arrumar a casa? Taí outro defeito: sou preguiçosa pra caramba. A louça já está criando vida na pia e daqui a pouco a pilha de roupa pra passar chega no teto. O carro eu não lavo quase nunca. Como não jogo lixo na rua, ele se acumula no tapete do carona e dentro das minhas bolsas.

Compulsiva com tudo: compras – CDs, roupas, sapatos, tenho tudo demais e continuo comprando – , comida, tatuagens, sexo, drogas, roquenrou. Egoísta, tenho ciúme de coisas e de pessoas. Detesto emprestar livros e DVDs. Os CDs eu não empresto de jeito nenhum. Mas com dinheiro eu não sou egoísta. Muito pelo contrário, sou gastadeira, perdulária, sem noção.

Completamente irresponsável, acho que nunca vou deixar de ser adolescente. Tempinho bom aquele, quando te sustentam enquanto você estuda, aprende, faz cursos. Tem tanta coisa que eu ainda quero aprender. Só que agora eu tenho que trabalhar pra pagar as contas. E trabalhar é chaaaaato... Olha a preguiça aí de novo! Sempre deixo pra depois de amanhã o que eu poderia ter feito ontem.

Crítica demais, sincera demais. Já magoei muita gente com a minha franqueza excessiva. E mais: sou mimada, cheia de vontades, impaciente, chatinha, esquecida (praticamente esclerosada), gulosa, desorganizada, auto-referente, hedonista, debochada, inconstante, convencida, relaxada, reclamona, maluquinha, viciada em novela, insubordinada, abusada, incoerente, acomodada, possessiva, chantagista emocional, imediatista, carente, mal educada... Mas sou bem legal, no fim das contas. Acredita?



Vivo (Lenine)

Precário, provisório, perecível,
Falível, transitório, transitivo,
Efêmero, fugaz e passageiro:

Eis aqui um vivo.

Impuro, imperfeito, impermanente,
Incerto, incompleto, inconstante,
Instável, variável, defectivo:

Eis aqui um vivo

E apesar
Do tráfico, do tráfego equívoco;
Do tóxico do trânsito nocivo;
Da droga do indigesto digestivo;
Do câncer vir do cerne do ser vivo;
Da mente, o mal do ente coletivo;
Do sangue, o mal do soropositivo;
E apesar dessas e outras,
O vivo afirma, firme, afirmativo:
“O que mais vale a pena é estar vivo.”

Não feito, não perfeito, não completo,
Não satisfeito nunca, não contente,
Não acabado, não definitivo:

Eis aqui um vivo.

Eis-me aqui.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Futura ex-míope


Sou míope desde os 8 anos. Bom, pelo menos foi aí que descobriram. Uma professora notou que eu fazia o maior esforço pra ler no quadro. Daí pro consultório do oftalmologista e depois pra ótica foi um pulo. E de nada adiantou espernear, dizer que eu nunca ia usar aquela porcaria na cara. A miopia galopante, que começou com 0,25 grau, chegou a assustadores 7 graus. De modo que eu não me enxergo no espelho de manhã.

Aos 15 anos, descobri o que eu acreditei por muito tempo ser a maior invenção da humanidade: as lentes de contato. Finalmente estava livre dos malditos aros acoplados a lentes de fundo de garrafa! Foi amor à primeira vista. Sempre nos demos muito bem, eu e as minhas gelatinosas. Até agora.

Há coisa de um mês, meus olhos e as lentes pararam de se entender. Tá certo que eu usava as lentes mais de 12 horas por dia e que não as tratava com a assepsia recomendada. Mas sempre foi assim, por que inventaram de me sacanear agora?

Um belo dia, acordei com o olho direito vermelho sangue, sem conseguir nem abrir direito. Achei que era conjuntivite, corri pro primeiro oftalmologista do plano de saúde que tinha horário livre. Diagnóstico: intolerância à lente. Quase chorei ali mesmo. E cá estou, usando os óculos medonhos que deixam meu nariz oleoso e machucam atrás da orelha.

A solução é uma só: seguindo o exemplo da minha irmã Dani, marquei a cirurgia. Estou de passagem comprada pra Brasília – é, porque eu só tenho coragem de operar se for com o Dr. Vicente, meu oculista desde criança – e entro na faca (ou melhor, no laser), pela primeira vez na vida, no dia 3 de julho.

Se não dá medo? Muito medo! Ainda mais quando me lembro que vou ficar de olho aberto, vendo toda a operação. Pôxa, não podiam fazer com anestesia geral? Mas aceito qualquer coisa pra não ter que passar o resto da vida usando óculos. E a Dani falou que não tem nada melhor que acordar enxergando tudo. Adeus miopia, sai desse olho que não te pertence!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O terminal


Não conheço ninguém que tenha ido, num curto espaço de tempo, tantas vezes ao aeroporto quanto eu. Pior, nenhuma delas pra viajar. Quem viaja muito, mas muito mesmo, é a minha família.

Há mais ou menos um mês, busquei meus pais, que vinham de Brasília. Uma semana depois, levei os dois e a minha avó, de partida para a serra gaúcha. Mais duas semanas e eles voltaram. E lá fui eu de novo pro Galeão. Seis dias depois, meus pais foram pra Brasília. Adivinha quem levou no aeroporto? Mas a melhor história mesmo foi da Vivi, aquela minha irmã que vocês já conhecem desde criancinha...

A Vivi ia passar o feriado de Corpus Christi em Vitória, na casa da sogra. Mas era mais barato vir pro Rio passar a noite e ir daqui pro Espírito Santo. Me ligou e disse que iam, ela e o marido, chegar ontem às 8:30 da noite num vôo da Gol. Como trabalho perto do aeroporto, decidi ir direto pra lá.

Cheguei às seis e pouco no aeroporto. Num lugar sem nada pra fazer exceto olhar aviões decolando ou vitrines de lojas, optei pela segunda alternativa. Perigo iminente! Pra começar, tomei dois cafés e comi um pão de queijo. Isso não levou nem vinte minutos. Ainda faltava uma longa hora e meia pra gastar. Nesse intervalo, consegui comprar cinco livros – daqueles de bolso, saíram todos pelo preço de um livro normal, mas já foi um rombo no orçamento –, a Piauí de junho, um xampu daqueles caros e o creme rinse do conjunto e uns óleos de massagem d’O Boticário, que a vendedora me convenceu a levar, dizendo que eram edição limitada para o dia dos namorados e que já estavam em falta em algumas lojas. Graçasadeus, a essa altura já tava perto da hora do avião da minha irmã chegar. Aí toca o meu celular. Era a Vivi. Dizendo que não vinha mais!

Meu cunhado tinha comprado as passagens pela internet. Recebeu o e-mail de confirmação mas, claro!, não leu. Aí a Vivi tirou, não sei de onde, um número de vôo da Gol – aquele que ela me deu o horário – e achou, não sei por quê, que era nesse vôo que eles vinham. Foram pro aeroporto de Brasília, onde passaram duas horas e meia na fila da Gol (ela até me ligou da fila, dizendo que o check-in tava um caos). Chegou a vez deles embarcarem a bagagem e... o nome deles não estava na lista. Foi aí que os dois descobriram que o vôo deles era, na verdade, o da TAM que tinha saído de Brasília às cinco e meia da tarde e que já tinha, inclusive, chegado no Rio. Juntei minhas sacolas e fui pra casa.

Quanto às notinhas das compras, vou mandar pra Vivi!

PS: Esses dois têm um extenso histórico de perda de aviões. Meu cunhado conseguiu, certa vez, perder TRÊS vôos numa curta estada dele na Alemanha. Ontem, quando ligaram pra contar à minha sobrinha de 8 anos, filha deles (que já está em Vitória), do acontecido, ela respondeu: “Ah, novidade! Isso me impressiona muito...”

De uma hora pra outra...


[ilustração do weno]


...alguém que até ontem eu nem conhecia entra de supetão na minha vida. E me tira o sono, o ar, a capacidade de pensar em qualquer outra coisa. E fico ansiosa por um telefonema que, por experiência, sei que não deveria esperar. Mas o telefone toca! Aí eu fico sem voz, sem graça, sem assunto (mesmo com tanta coisa pra dizer). E, ao me desejar boa noite, pede que eu sonhe com ele. Nem precisava pedir!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Darwinismo às avessas

Outro dia vi um filme que me deixou meio preocupada. Era um filme bobo, mas partia de uma premissa que eu considerei bastante válida.

Logo nas primeiras cenas de Idiocracy, aparece um casal inteligente, ela PhD e ele CEO de alguma multinacional, enumerando as razões pelas quais ainda não se sentem preparados para ter filhos. O filme vai mostrando o mesmo casal a cada cinco anos, sempre com algum novo motivo para não procriar ainda. Até que o casal aparece, já cheios de rugas, dizendo que resolveram finalmente formar uma prole, já fizeram diversos tratamentos de fertilidade, mas nada deu certo.

Corta pra um jogador de futebol americano completamente palerma, cercado por cheerleaders igualmente estúpidas. Ele diz: "Vou comer todas elas!". E todas ficam grávidas.

Corta pro futuro distante, daqui a não-sei-quantos anos. A Terra é habitada por uma população totalmente formada por imbecis completos. O filme é ruim, não vale a pena ver. Mas me deu um medo...

quinta-feira, 31 de maio de 2007

O escândalo

Aos 11 anos, a Vivi, minha irmã, resolveu fazer uma cirurgia plástica. Nada radical, só uma correção de orelhas de abano. As orelhas não eram grandes nem muito abanadas, mas ela se sentia tão incomodada com elas que não usava cabelo curto nem rabo de cavalo. Fotos do balé, com aquele indefectível coque, eram proibidas até de passar perto dos porta-retratos.

No pré-operatório, exame de sangue. Minha mãe, minha avó e eu fomos acompanhá-la. Não sei se era um laboratório especializado em crianças, mas o fato é que havia muitas delas na sala de espera naquele dia.

Chegou a vez da Vivi, que entrou com a minha mãe. Três segundos depois, começou. Não havia a menor dúvida, era a voz da Vivi. Aos berros. “Nãããããããããããão! Eu desisto! Não quero mais operaaaaaar! Socoooooorro!”

Na mesma hora, todas as crianças da sala de espera começaram a chorar também. Gritos tomaram conta do lugar, a situação estava fora de controle. As crianças esperneando, as mães sem saber o que fazer, as enfermeiras correndo de um lado pro outro.

No meio desse caos, a Vivi sai do reservado e diz, cantarolando, com a cara mais inocente: “Não doeu nada”. Fomos embora, fuziladas pelos olhares de todas as outras mães.

PS: Outro dia, quase vinte anos depois da cirurgia, a Vivi me contou que viu uma coisa esquisita, um pontinho preto na orelha. Achando que era um mega-cravo, tentou espremer. Como o negócio não saía, resolveu tirar com uma pinça e... era um ponto da operação! Na hora imaginei ela tirando o ponto e a orelha, ploft!, voltando pro lugar. Haha.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Mais perdida que cego em tiroteio


Não bastasse segunda-feira já ser um dia infeliz por definição, hoje um acontecimento extraordinário veio animar a minha volta do trabalho para casa: um tiroteio básico. Para incrementar um pouco mais o evento, os traficas resolveram lançar uma granada perto da estação de trem que fica bem na minha rota – ainda bem que isso foi antes do fim do expediente. Ah, as alegrias de trabalhar na região carinhosamente apelidada de Faixa de Gaza!

Resultado: o portão por onde eu sempre saio ficou fechado e todos tiveram que usar a outra saída, na Avenida Brasil. Estaria tudo bem, se não fosse uma pequena deficiência que eu tenho, de localização espacial. Imagino que eu tenha herdado o gene da desorientação ou que sofra da falta de algum neurotransmissor no cérebro. Ou labirintite, talvez. Seja o que for, causa desagradáveis efeitos: só decoro um caminho depois de passar muitas vezes por ele – dirigindo, porque se eu for de carona, não aprendo nunca.

Com muita boa vontade, meus colegas tentaram me explicar o trajeto que eu teria que fazer. Quando viram que era inútil, o Guto achou por bem desenhar um mapinha que possibilitasse a minha volta para casa sem maiores percalços. Afinal, não é nada saudável se perder num lugar desses nunca, ainda por cima com um tiroteio nas proximidades.

Funcionou! Bom, na verdade eu me perdi um pouquinho, nada grave. Dei a volta duas vezes no mesmo quarteirão, tive que pedir informação pra um cara que dirigia um carro do correio, mas no fim deu tudo certo. Cheguei sã e salva em casa graças ao mapa. Porque se eu fosse depender da sinalização das ruas... Por isso, agradeço publicamente. Valeu, Gutão!

Não, Valentina! Nãããããããão!!!!!!

Pensei seriamente em devolver a Valentina. “Ué, mas você não estava tão apaixonada pela gata outro dia?”, vão me perguntar. Foi repentino, eu sei. E explico. Vamos aos fatos.

A decisão de adotar a bichana foi tomada num impulso. Fiquei tocada pela triste história da gatinha e pelos seus lindos olhos verdes. Fazia tempo que eu queria um bicho de estimação. Minha primeira escolha seria um cachorro, animal que me é bem mais familiar. Mas eu passo o dia todo fora, seria maldade. Aí me disseram que gatos são menos carentes, ficam sozinhos em casa numa boa. É, ficam sim. A casa é que não fica nada bem.

Nos primeiros dias tudo ia às mil maravilhas. A Valentina dormia quase o tempo todo, aonde eu ia, ela vinha atrás – uma gracinha! Mas só porque ela ainda não estava ambientada no meu apê, descobri depois. Foi só começar a se sentir em casa pra botar as unhas de fora. Literalmente.

Na quinta-feira, cheguei em casa e encontrei um pano de prato destruído no chão da cozinha. “Ah, tudo bem. Eu estava precisando de panos de prato novos, mesmo. Só que não vou poder mais pendurá-los aqui”, pensei. Mas no dia seguinte, a surpresa foi mais desagradável. Minha tieflera querida estava destroçada. Isso me deixou bem mais chateada que o pano de prato. Tinha sido presente da minha avó, logo que me mudei. Na época tinha só duas folhinhas, um bebê planta. Depois de quase dois anos, havia se transformado num arbusto vistoso no canto da minha sala. E agora estava reduzida a um caule todo arranhado e... duas folhas.

Chegou o sábado, primeiro dia que eu ia passar inteirinho com a Valentina. Notei que os brinquedos que eu comprara – bola e ratinho de pano – não prendiam sua atenção por muito tempo. Ela estava mais interessada em outras atividades, como desfiar o tapete e derrubar os CDs da estante. Parti para as tarefas domésticas de fim-de-semana. Botei a roupa na máquina e fui passar um pano no chão da cozinha (que cheirava a zoológico). A Valentina largou o tapete e os CDs pra correr atrás do pano. Botei a gata na sala e fechei a porta da cozinha para terminar o serviço.

Chão limpo, cozinha cheirosa, voltei pra sala e dei de cara com a pestinha empenhada em destruir o sofá que eu ainda nem terminei de pagar. Respirei fundo e fui tentar distraí-la com os desprezados brinquedos. Deu certo por um tempo. Pendurei a roupa lavada e saí pra comprar uma coca-cola.

Juro que não demorei nem cinco minutos, mas quando voltei um dos lençóis do varal estava completamente inutilizado. Sorte que ela escolheu o lençol (que já estava velho e com alguns buracos de cigarro) em vez de algum vestido de maior valor sentimental. O varal aqui de casa é de parede – a área de serviço é estreita e o aquecedor a gás impede a instalação de um daqueles de teto – e as roupas ficam bem ao alcance das patinhas destruidoras.

Desesperada e sem saber como conter a sanha demolidora da Valentina, resolvi levá-la a um passeio. Aproveitando que a minha avó estava viajando, rumei pra casa dela. Tá, eu sei que gato não é um bicho chegado a passeios. Mas a casa da minha avó fica a cinco minutos de carro do meu apartamento. Tem um terreno grande, gramado, muitos passarinhos e borboletas pra Valentina correr atrás. Achei que ela ia gostar. Odiou. Se entocou na antiga casinha de boneca, que hoje é entupida de entulhos de todo tipo. “Deixa ela aí”, pensei, “uma hora ela sai”. Me enganei de novo. Escureceu. Tentei atraí-la com a voz mais doce que consegui extrair das minhas cordas vocais. Ela não saiu. Ração, biscoito, carne. Nada feito. Achei uma lanterna e arranquei-a a força. Voltamos pra casa.

E a destruição continuava. No intervalo da novela, fui buscar um copo d’água e peguei a gata no pulo (literalmente, de novo) quando tentava derrubar da parede meu espelho com moldura de bambu. Tudo bem, os sete anos de azar iam ser pra ela. Mas quem ia ficar sem o espelho era eu. E, junto com o espelho, ia pro chão uma lanterna indiana linda, dessas que você põe uma vela dentro, pela qual eu paguei quase duzentas pratas. Consegui evitar o desastre. Mas foi por pouco.

Saldo (negativo) da primeira semana da Valentina aqui em casa:
- um pano de prato e um lençol transformados em farrapos;
- dois tapetes de sisal meio descabelados e com as bordas viradas para cima;
- um sofá um pouco arranhado;
- minha calça jeans preferida com vários fios puxados;
- uma tieflera destroçada e muitas plantas com folhas a menos;
- algumas caixas de CD quebradas;
- duas almofadas desfiadas,
- inúmeros arranhões, incluindo um perto da unha do mindinho direito que arde só de chegar perto da água.

Foi aí que eu me toquei que talvez tivesse que escolher. Primeira opção: moraríamos eu e Valentina num apartamento sem sofá, sem tapetes, sem plantas, sem discos, livros e DVDs, sem nada pendurado nas paredes e sem nunca mais lavar as roupas. Segunda opção: moraria eu com todas essas coisas e sem a Valentina. Liguei pro Rapha na mesma hora. Ele aceitou a gata de volta, mas como estava no trabalho e ficaria lá até de madrugada, pediu que esperasse até domingo para devolvê-la. “Tudo bem”, pensei. “Amanhã cedo desovo a gata na casa dele, antes que ele mude de idéia”.

Parece que a Valentina adivinhou o que estava pra acontecer, porque no domingo ela se comportou como uma lady. Perdi a coragem de abandoná-la, resolvi dar mais uma chance pra ela. Liguei pro Rapha pra comunicar minha nova decisão. E não é que ele não atendeu o celular nem o telefone de casa?

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo *


Tenho um problema sério pra acordar na hora. Que se agrava devido a uma outra dificuldade que me acompanha desde pequena: não consigo dormir cedo. Na verdade, nem tento mais.

Quando era criança, tinha a famigerada “hora de dormir”. E lá ia eu pra cama sem um pingo de sono. Deitava e ficava rolando de um lado pro outro, cada vez mais agoniada e com menos sono. Acho que é por isso que hoje em dia eu só vou deitar quando não consigo mais manter os olhos abertos – o que só acontece lá pras duas, três horas da madrugada.

A questão é que eu tenho que estar de pé às oito. E preciso de, no mínimo, oito horas de sono por noite para estar lépida e fagueira no dia seguinte. O que nunca acontece, já que oito menos três igual a cinco. Resultado: não consigo acordar na hora. E na sexta-feira estou reduzida a um farrapo, um zumbi, um molambo.

Na adolescência descobri uma solução confortável para o sono sem fim. Levava sempre um casaco dentro da mochila que assim, recheada, virava um travesseiro. Dormi durante incontáveis aulas de química (que nunca me fizeram falta; já o sono...). Só que agora não dá mais pra usar a estratégia da mochila-travesseiro. No colégio, éramos cem alunos na turma. No meu trabalho, somos dez na sala. Não ia ficar nem bem.

A hora de acordar também é muito mais difícil agora. Na época da escola, tinha a minha mãe pra ficar me chamando de cinco em cinco minutos até eu levantar. Agora eu conto com quatro despertadores. Isso mesmo: QUATRO. É que eu acostumo com o jeito de desligar as pestes. Quando isso acontece, já era: desligo dormindo. Aí é hora de comprar um novo. E eu odeio gastar dinheiro com isso! Acho que deviam distribuir despertadores de graça (e guarda-chuvas também, mas isso não vem ao caso agora).

A tática é a seguinte: três despertadores ficam na cabeceira. O primeiro começa a tocar trinta minutos antes da hora em que eu preciso acordar. A partir daí, a cada cinco minutos alguma campainha invade os meus sonhos. Engraçado como o melhor sono, com sonhos lindos, é justamente o dessa hora. Até que toca o despertador que fica no banheiro da suíte (estrategicamente colocado lá, assim eu tenho que sair da cama pra desligar), programado para o último minuto em que ainda é possível acordar, tomar uma ducha rápida, vestir a primeira roupa que eu achar no armário, sair correndo e chegar no trabalho só dez minutos atrasada.

Mas – eu sempre me surpreendo comigo mesma – ultimamente tem acontecido cada vez com mais freqüência de eu me levantar, desligar o despertador do banheiro, voltar pra cama e dormir de novo. E, quando eu acordo, não me lembro de ter feito isso! E agora?

*A frase do título é do Mario Quintana, que compartilhava comigo o ódio pelos despertadores. Também é dele “O despertador é um acidente de tráfego de sono”. E o poema do qual reproduzo um trecho a seguir. Bravo, Quintana!

O Tempo
O despertador é um objeto abjeto.
Nele mora o tempo.
O Tempo não pode viver sem nós,
para não parar.
E todas as manhãs
nos chama freneticamente
como um velho paralítico
a tocar a campainha atroz (...)

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Coisas que eu não fiz


[ilustração do weno]


Nunca vi um ornitorrinco. Nem uma baleia. Orca não conta, não é baleia. Nunca matei uma barata com chinelo. Só na base do spray de veneno e, mesmo assim, bem de longe. Nunca comi jiló nem quiabo, mas não gosto de nenhum dos dois. Nunca andei de helicóptero, nem de patinete, nem de pogobol, nem de monociclo.

Não conheço Amsterdã, Praga, Barcelona, Machu Pichu, a Provence, Madri, Fernando de Noronha, Nova Iorque, Istambul, as ilhas gregas, Havana, São Luís do Maranhão, a Polinésia francesa... Droga!

Não me formei em psicologia, educação física nem veterinária. Comecei todos esses cursos, não terminei nenhum. Acabei virando jornalista mesmo. É a melhor profissão pros indecisos, porque um jornalista tem a oportunidade de aprender um pouco sobre várias coisas. Hoje, por exemplo, sei muito mais sobre doenças infecto-contagiosas do que eu gostaria.

Nunca pulei de asa delta, parapente, pára-quedas nem bungee jump. Considero a possibilidade da asa delta e do parapente. Pro pára-quedas, eu precisaria de algum preparo psicológico antes. Bungee jump só se me empurrarem morta lá de cima.

Não escalei nenhuma montanha, não pulei de nenhuma cachoeira, não desci corredeiras de bote, não li Os Sertões, não aprendi a falar alemão. Ah, e não fui eu que quebrei o lustre da sala, viu mãe?

A revolução dos eletrodomésticos

Ao contrário do que o título do post pode levar a crer, não pretendo falar aqui sobre as novidades tecnológicas no ramo dos aparelhos eletrônicos. Nem comentar o boom que as vendas em 24 parcelas das Casas Bahia causaram no consumo de eletrodomésticos. Quero contar, isso sim, que os MEUS eletrodomésticos resolveram, de uma hora pra outra, se amotinar contra mim.

Começou com o já combalido computador. O velho PC sucumbiu aos anos de uso sem nenhum upgrade. O caso foi resolvido pelo meu pai, que esteve aqui recentemente e, sempre que vem ao Rio, dá uma de professor Pardal na minha casa.

Em seguida, o microondas pifou. Acende a luzinha, gira o prato, faz barulho; só não esquenta a comida. Talvez a Graça, faxineira e furacão, o tenha atingido com seus gestos tão delicados. Tirei da tomada e esquento a comida no fogão, que não tinha tido muito uso até agora.

Depois foi a vez do controle remoto do DVD. Verifiquei que ele tem alguma coisa solta dentro e atualmente só funciona como chocalho. E descobri que sem ele não consigo acessar o menu dos filmes.

Por último, e para o meu maior desespero, uma pecinha do som se soltou quando eu escutava uma sessão de discos de fossa. Acho que era nessa pecinha redondinha que o CD se encaixava dentro do som. Nem preciso dizer que a deprê piorou. Mas, felizmente, meus parcos conhecimentos sobre fios e cabos foram suficientes para ligar um disc man velho no som.

Andei pensando em colocar a geladeira, a televisão, o liquidificador, a máquina de lavar, o disc man e o ventilador no seguro. Fica mais barato, vai que eles resolvem aderir à revolução?

Será este o fim da minha bagunça?

Percebi que agora, com a Valentina em casa, vou ser finalmente obrigada a ser menos bagunceira. Sim, porque imagine um filhote de gato com o diabo no corpo no meio de pilhas de bagunça. Agora tente ver o filhote de gato aterrissando em cima de uma dessas pilhas. Imaginou? Então viu.

Estou até usando o armário de sapatos em vez de deixá-los todos espalhados no quarto bem à mão (ou ao pé) - hábito muito útil na hora de calçar qualquer coisa quando se está correndo atrasada pro trabalho. Mas que, admito, não causa um efeito muito bom na decoração. E as pilhas de bagunça eu escondi dentro de um armário.

terça-feira, 22 de maio de 2007

É só ter papel e barbante

Ontem de noite, eu e a Valentina nos divertimos adoidado com uma bolinha de papel e um barbante – eu me cansei no meio da brincadeira e ela ainda no maior gás. Gato é um bicho muito fácil de agradar!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Casa nova

Eu, que nunca tinha tido gatos antes (sempre fui mais cachorreira), confesso que estava com um pouco de medo de não saber lidar com a Valentina. Acomodei a gata dentro da casinha acolchoada no banco do carona e dirigi devagarzinho até em casa, a minha mão direita fazendo carinho no pêlo branquinho dela. Como tremia!

Chegando em casa, coloquei a casinha no quarto de televisão e me sentei pra ver um filme. Ela continuava imóvel lá dentro, sem soltar nem um miado. Só saiu quando eu me levantei pra beber água. E se instalou embaixo do sofá. Achei melhor deixar ela lá, uma hora ela ia acabar saindo sozinha. E não é que saiu mesmo? E pulou em cima das minhas pernas, sem a menor cerimônia. Vimos o resto do filme assim, ela no meu colo ganhando um cafuné atrás da orelha. Foi aí eu vi que ainda vamos ser grandes amigas.

Rapha salva Valentina

Ontem levei a Valentina pra casa. Tão pequenininha e já tem tanta história pra contar...

Veio de Araruama até o Rio dentro do motor de um carro. Ninguém sabe como ela foi parar lá, mas imagino que, para ter entrado num lugar tão apertado, escuro e sujo, boa coisa não deve ter acontecido. Deu sorte que o dono do carro em questão mora no mesmo prédio do Rapha, um amigo meu que é apaixonado por gatos. E mais sorte ainda do Rapha ter passado perto do carro e ouvido os miados dela.

Mas o sufoco ainda não tinha terminado. O Rapha interfonou pro dono do carro, explicou a situação e pediu pra ele descer e abrir o capô. O cara falou que não ia descer! Agora, o que pensa uma pessoa que se nega a pegar um elevador até a garagem pra tirar um gato que está preso no motor do carro? Será que ele preferia dar de cara com um cadáver da próxima vez que fosse completar a água?

Aí o jeito foi o Rapha ficar de plantão na garagem esperando o gato sair (era uma gata, mas, a essa altura, ele ainda não sabia disso). E saiu: magrela, suja e com uma pereba no olho.

Ontem, quase um mês depois do episódio do carro, teve churrasco na casa do Rapha. Era aniversário do Felipe, filho mais velho do meu amigo. E quem ganhou o melhor presente fui eu. Voltei pra casa com a Valentina – que até ontem se chamava Tempestade (pois é, o Rapha tem muitas qualidades, mas entre elas não está o bom gosto na escolha de nomes para gatos) –, já curada do probleminha no olho, uma caminha acolchoada, um punhado de ração, um pratinho e uma caixa de areia. Kit completo.

Essa foi a história do Rapha e da Valentina. A minha história com ela está só começando. E, do jeito que eu sou, tenho certeza que daqui a pouco minha casa vira um albergue pra gatos.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Zen


[ilustração do weno]


Minha amiga Ana me deu de presente um vale-massagem. Presentaço! Mas eu, enrolada que só, ainda não tinha ligado pra Luisa, a massoterapeuta, pra marcar um horário. Até que essa semana, quase um mês depois do aniversário, a Luisa me ligou. Marcamos pra hoje.

Está comprovado: nada melhor pra encerrar a semana que uma bela massagem. Uma hora e meia de relaxamento total. Tô zen. Valeu, Ana! Melhor presente de todos os tempos. Agora sim o inferno astral acabou! Urucubaca nenhuma me pega mais. Bom, pelo menos até segunda...

Respiração boca a boca

Tava na minha, num domingo à noite, já pra lá de Bagdá num boteco com alguns amigos. Me aparece do nada um sujeito, senta do meu lado e começa a me dizer como eu sou linda, que ele tá morrendo de vontade de me dar um beijo na boca e essas coisas que eles dizem e que a gente fica toda boba (desde que eles sejam bonitos e interessantes, como no caso). Eu, já bêbada, mas ainda com algum autocontrole, dispensei o beijo, mas anotei o telefone do rapaz (e ele, o meu).

Já tinha até esquecido o assunto (pois é, sofro de amnésia alcoólica) e amargava uma triste segunda-feira de trabalho quando ele, que vou chamar de Rafael (porque é o nome dele, mesmo), ligou. E também ligou terça, quarta e quinta. Me empolguei com a insistência do pretê e aceitei o convite pra sair com ele. Rolaram uns beijos, uns amassos, ligou na sexta, paixonite à vista.

Fim de semana: o sujeito some. Pulga atrás da orelha já começa a me incomodar. Mas liga de novo na terça, na quarta e na quinta. Saímos de novo. Horas e horas de conversa me mostraram que, além de lindo, o cara é inteligente, bacana, engraçado. Já foi nadador, como eu, adora cachorros, eu também. Nós dois gostamos de mergulhar, nenhum dos dois gosta muito de carne vermelha. Prometeu me ensinar a surfar e eu prometi levá-lo ao terreno da minha família na Ilha Grande. Tudo bom demais pra ser verdade.

Foi aí que eu fiz a pergunta fatal: “Você não é casado, não, né? Nem tem namorada?”. A que ele respondeu com um enigmático: “Tenho um relacionamento”. E não parou por aí. Disse: “Resolvi que não vou mais me privar de nada”. E veio com aqueles papos de sociedade hipócrita, monogamia não existe, rolou uma coisa muito forte entre nós etcétera e tal. Tudo bem, Rafael, até concordo em parte. Mas, meu bem, nessa vida a gente tem, sim, que abrir mão de muita coisa. E, pela minha experiência, quando a gente gosta de alguém, a gente quer mais é abrir mão de todas as outras possibilidades. E a sua namorada? Ela sabe que você anda por aí não se privando de nada? Seria justo ela saber pra poder, também, não se privar. Não acha, não?

E o mais surpreendente dessa história toda foi que eu não fiquei mal, nem triste, nem danada da vida com isso. Pelo contrário, me fez até bem. Os beijos do Rafael (e o papo, os elogios e outras coisinhas que eu não vou contar aqui) fizeram uma verdadeira manobra de ressucitamento na minha combalida alminha, que eu julgava morta. Por isso, obrigada, Rafa! Mas da próxima vez que você ligar, eu não vou atender, não, tá?

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Só o Buk me entende!

The aliens (Charles Bukowski)

you may not believe it
but there are people
who go through life with
very little
friction or
distress.
they dress well, eat
well, sleep well.
they are contented with
their family
life.
they have moments of
grief
but all in all
they are undisturbed
and often feel
very good.
and when they die
it is an easy
death, usually in their
sleep.
you may not believe
it
but such people do
exist.
but I am not one of
them.
oh no, I am not one
of them,
I am not even near
to being
one of
them
but they are
there
and I am
here.

De luto

Chegou no trabalho toda de preto. Perguntaram, brincando:
- Que é isso, menina?Tá de luto?
Respondeu, séria:
- É, tô sim.
- Nossa! Quem morreu?
- A minha alma. Foi morrendo aos pouquinhos, devagarzinho, e ontem, quando eu percebi, tava lá, dura e seca, mortinha da silva.