segunda-feira, 25 de junho de 2007

Máquina de fazer doido


Meu pai diz que televisão é máquina de fazer doido. Devido a essa filosofia paterna, não tínhamos TV em casa até os meus 12 anos. Isso em muito contribuiu com a minha atroz timidez na infância e pré-adolescência. Afinal, em meio a crianças televisivas no começo da era dos programas infantis comandados por louras, eu não podia dar muito pitaco em conversas relacionadas a desenhos animados. Não tinha idéia se a Xuxa batia ou não nas crianças que faziam figuração no programa, não sabia os jingles de propagandas, quais eram os últimos lançamentos em brinquedos, nem jogava videogame (Atari, lembram?). Só de férias na casa da vovó Liane, duas vezes por ano, é que eu e minhas irmãs nos interávamos desses assuntos.

Em compensação, nunca quis ser paquita nem entrar na nave da Xuxa. Em vez disso lia, lia muito. Ruth Rocha, Ana Maria e Maria Clara Machado, Lygia Bojunga, Zélia Gattai, Luis Fernando Veríssimo, José Lins do Rego, Alexandre Dumas, Maurice Druon, Coleção Vaga-Lume, João Carlos Marinho, Monteiro Lobato, Fernando Sabino, toda a coleção de Agatha Christie da minha mãe, as crônicas do Drummond, Jorge Amado, revistinhas da Mônica, Luluzinha, Pato Donald e tudo mais que caísse na minha mão. Lá em casa, nunca se economizou com livros.

Até que um dia, a máquina de fazer doido chegou. Foi aí que começou a minha mania de novelas. Via todas, inclusive a que passava de tarde – dessa, geralmente, só via o começo, esparramada na cama dos meus pais, pra puxar um soninho.

Na época de Viçosa, me afastei da TV. Tinha coisa muito melhor pra fazer. Aí me mudei pro Rio. No começo, morando na casa da minha vó, nova evolução: TV a cabo. Novos vícios: Friends, Sex and the City, Lost, Simpsons, Gilmore Girls, programas de decoração e culinária do GNT e People and Arts… Hoje em dia, morando sozinha, não tenho mais TV a cabo. Não admito pagar pra ver televisão.

Mas, com ou sem máquina de fazer doido, nunca abandonei meu vício pelos livros, que faz rombos nos meus bolsos. Mas é um dinheiro bem gasto, fundamental para preservar minha saúde mental. Estou sempre lendo pelo menos um e tenho uma reserva grande de livros ainda não lidos, pra não ter crise de abstinência. Aos autores já citados, juntaram-se na minha biblioteca Bukowski, a maravilhosa Rosa Montero, Pedro Juan Gutièrrez, Mario Vargas Llosa (que descobri recentemente, lendo o belíssimo Travessuras da Menina Má), Nelson Rodrigues, Patrícia Melo, Chico Buarque, Rubem Fonseca, Erico Veríssimo, Milan Kundera, Umberto Eco, Moacyr Scliar, Cony, Oscar Wilde, Ken Follet, uma lista que não acaba mais.

Será que se eu tivesse visto TV na infância meu amor pelos livros seria menor? Não sei. Talvez eu não fosse a fã número um da Ruth Rocha. Mas gosto de pensar que eu seria uma leitora compulsiva de qualquer jeito.

10 comentários:

Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade disse...

Acho que seríamos leitoras vorazes de qualquer forma, porque o importante não é ter ou não ter TV, mas ter uma família que não baba na frente da TV diuturnamente e, principalmente, ter uma que dá exemplos de leituras várias (ou práticas de letramento, em bom lingüistês!!). Yara nem liga pra TV!! Que orgulhosa fica a mamãe analista de discurso cri-crítica!!!

4rthur disse...

Apoio a atitude do paizão, embora admita que é cada vez mais difícil segurar esse tipo de onda. A cultura televisiva invadiu de tal forma nossas vidas, que é como você disse: uma criança educada sem a maquininha de fazer doido corre o risco de se tornar quase uma anti-social entre os amiguinhos.

Não sei se vc já leu Pantaleão e as visitadoras, do Vargas Llosa. É seguramente o livro mais engraçado que já li.

beijo! E aproveito pra desejar logo boa viagem e boa cirurgia (é por agora, né?) e, com o perdão do trocadilho infame (não resisto a eles), que você volte de lá vendo o mundo com outros olhos...

Renatinha disse...

Olha Nana... eu tive TV desde sempre, pois meus pais eram mais tradicionais (hahaha) e gosto muito de ler, sempre li muito, e sempre fui tímida também. A TV não nos muda... só nos vicia em coisas que queremos, como seriados e novelas... que amo, mas não coloco TV no meu quarto, pois acho que aí sim me daria preguiça de ler, já que a telinha é mais simples, já está lá pronta a hitória.... bjs Re
PS... este livro travessuras da menina má é bom mesmo? bjs

. fina flor . disse...

Eu usava as sandálias da Xuxa mas li a coleção vaga-lume inteira :o)...........

beijos, bonita e boa semana

MM

Gastón disse...

Olha, me ressentiria nem tanto pelos programas, mas pelo Atari ;)

Nana disse...

Vivi,
Yarinha é o orgulho da titia. Ti fofa!

4rthur,
Já tentei comprar Pantaleão e as visitadoras, mas parece que tá esgotado. Tô lendo agora O paraíso na outra esquina, do Vargas Llosa também.
Obrigada pelos votos de boa sorte na minha cirurgia (medo, medo, medo). Se eu voltar vendo o mundo já tá bom a beça (porque com 7 graus de miopia eu não enxergo nadica!).

Re,
Também odeio TV no quarto. Ainda por cima acaba com qualquer vida sexual!
E o livro é muito, muito, MUITO bom!

Mônica,
Pois é, tô me convencendo que a TV nem é tão prejudicial ao hábito da leitura... Boa semana!

Gaston,
Eu adorava River Raid e Frog. Mas só nas férias na casa da vovó...

Unknown disse...

Nana, eu concordo com a Vivi. Lá em casa tinha TV a vontade, mas meu pai só assistia ao jornal e depois ia ler algum livro... A gente cresceu vendo o papai muuito. O mais engraçado é que eu adoro ler e minha irmã tem uma certa "dificuldade" de concentração, tanto é que nem tv ela para quieta para assistir. Ela é mais do tipo relações sociais...
Beijos

Catarina Chagas disse...

Olha, eu tive TV e videogame, mas aprendi a gostar de livros bem pequena, também. Como a sua irmã falou aí em cima, é questão de incentivo (sempre ganhei livros legais de presente) e exemplo (minha mãe lê cinco ou seis livros ao mesmo tempo e não dorme quando está muito curiosa com uma história).

4rthur disse...

Lembrei que escrevi, há dois meses, um post sobre os livros de realismo fantástico que li. Te recomendo dar uma passada lá, até porque alguns dos autores (O Vargas Llosa está lá) são excelentes.

O link:

http://absurdosturos.blogspot.com/2007/04/os-livros-com-os-quais-andei.html

beijo!

Nana disse...

Flavinha,
Pois é, acho que o mais importante é o exemplo, sim. E não usar a TV como babá!

Cata,
Cinco ou seis ao mesmo tempo?!

4rthur,
Tô indo lá agora!