segunda-feira, 28 de maio de 2007

Não, Valentina! Nãããããããão!!!!!!

Pensei seriamente em devolver a Valentina. “Ué, mas você não estava tão apaixonada pela gata outro dia?”, vão me perguntar. Foi repentino, eu sei. E explico. Vamos aos fatos.

A decisão de adotar a bichana foi tomada num impulso. Fiquei tocada pela triste história da gatinha e pelos seus lindos olhos verdes. Fazia tempo que eu queria um bicho de estimação. Minha primeira escolha seria um cachorro, animal que me é bem mais familiar. Mas eu passo o dia todo fora, seria maldade. Aí me disseram que gatos são menos carentes, ficam sozinhos em casa numa boa. É, ficam sim. A casa é que não fica nada bem.

Nos primeiros dias tudo ia às mil maravilhas. A Valentina dormia quase o tempo todo, aonde eu ia, ela vinha atrás – uma gracinha! Mas só porque ela ainda não estava ambientada no meu apê, descobri depois. Foi só começar a se sentir em casa pra botar as unhas de fora. Literalmente.

Na quinta-feira, cheguei em casa e encontrei um pano de prato destruído no chão da cozinha. “Ah, tudo bem. Eu estava precisando de panos de prato novos, mesmo. Só que não vou poder mais pendurá-los aqui”, pensei. Mas no dia seguinte, a surpresa foi mais desagradável. Minha tieflera querida estava destroçada. Isso me deixou bem mais chateada que o pano de prato. Tinha sido presente da minha avó, logo que me mudei. Na época tinha só duas folhinhas, um bebê planta. Depois de quase dois anos, havia se transformado num arbusto vistoso no canto da minha sala. E agora estava reduzida a um caule todo arranhado e... duas folhas.

Chegou o sábado, primeiro dia que eu ia passar inteirinho com a Valentina. Notei que os brinquedos que eu comprara – bola e ratinho de pano – não prendiam sua atenção por muito tempo. Ela estava mais interessada em outras atividades, como desfiar o tapete e derrubar os CDs da estante. Parti para as tarefas domésticas de fim-de-semana. Botei a roupa na máquina e fui passar um pano no chão da cozinha (que cheirava a zoológico). A Valentina largou o tapete e os CDs pra correr atrás do pano. Botei a gata na sala e fechei a porta da cozinha para terminar o serviço.

Chão limpo, cozinha cheirosa, voltei pra sala e dei de cara com a pestinha empenhada em destruir o sofá que eu ainda nem terminei de pagar. Respirei fundo e fui tentar distraí-la com os desprezados brinquedos. Deu certo por um tempo. Pendurei a roupa lavada e saí pra comprar uma coca-cola.

Juro que não demorei nem cinco minutos, mas quando voltei um dos lençóis do varal estava completamente inutilizado. Sorte que ela escolheu o lençol (que já estava velho e com alguns buracos de cigarro) em vez de algum vestido de maior valor sentimental. O varal aqui de casa é de parede – a área de serviço é estreita e o aquecedor a gás impede a instalação de um daqueles de teto – e as roupas ficam bem ao alcance das patinhas destruidoras.

Desesperada e sem saber como conter a sanha demolidora da Valentina, resolvi levá-la a um passeio. Aproveitando que a minha avó estava viajando, rumei pra casa dela. Tá, eu sei que gato não é um bicho chegado a passeios. Mas a casa da minha avó fica a cinco minutos de carro do meu apartamento. Tem um terreno grande, gramado, muitos passarinhos e borboletas pra Valentina correr atrás. Achei que ela ia gostar. Odiou. Se entocou na antiga casinha de boneca, que hoje é entupida de entulhos de todo tipo. “Deixa ela aí”, pensei, “uma hora ela sai”. Me enganei de novo. Escureceu. Tentei atraí-la com a voz mais doce que consegui extrair das minhas cordas vocais. Ela não saiu. Ração, biscoito, carne. Nada feito. Achei uma lanterna e arranquei-a a força. Voltamos pra casa.

E a destruição continuava. No intervalo da novela, fui buscar um copo d’água e peguei a gata no pulo (literalmente, de novo) quando tentava derrubar da parede meu espelho com moldura de bambu. Tudo bem, os sete anos de azar iam ser pra ela. Mas quem ia ficar sem o espelho era eu. E, junto com o espelho, ia pro chão uma lanterna indiana linda, dessas que você põe uma vela dentro, pela qual eu paguei quase duzentas pratas. Consegui evitar o desastre. Mas foi por pouco.

Saldo (negativo) da primeira semana da Valentina aqui em casa:
- um pano de prato e um lençol transformados em farrapos;
- dois tapetes de sisal meio descabelados e com as bordas viradas para cima;
- um sofá um pouco arranhado;
- minha calça jeans preferida com vários fios puxados;
- uma tieflera destroçada e muitas plantas com folhas a menos;
- algumas caixas de CD quebradas;
- duas almofadas desfiadas,
- inúmeros arranhões, incluindo um perto da unha do mindinho direito que arde só de chegar perto da água.

Foi aí que eu me toquei que talvez tivesse que escolher. Primeira opção: moraríamos eu e Valentina num apartamento sem sofá, sem tapetes, sem plantas, sem discos, livros e DVDs, sem nada pendurado nas paredes e sem nunca mais lavar as roupas. Segunda opção: moraria eu com todas essas coisas e sem a Valentina. Liguei pro Rapha na mesma hora. Ele aceitou a gata de volta, mas como estava no trabalho e ficaria lá até de madrugada, pediu que esperasse até domingo para devolvê-la. “Tudo bem”, pensei. “Amanhã cedo desovo a gata na casa dele, antes que ele mude de idéia”.

Parece que a Valentina adivinhou o que estava pra acontecer, porque no domingo ela se comportou como uma lady. Perdi a coragem de abandoná-la, resolvi dar mais uma chance pra ela. Liguei pro Rapha pra comunicar minha nova decisão. E não é que ele não atendeu o celular nem o telefone de casa?

11 comentários:

Catarina Chagas disse...

Cruzes, quanta bagunça para uma gata pequenininha!

É por isso que meus animais de estimação ficam dentro do aquário...

Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade disse...

Calma, Naninha, é só porque ela é pequena ainda. A Sissil aqui de casa se comporta muito bem. E a Danizinha tem quatro gatos em um apê bem menor que o seu...
Em todo caso, tenho uma dica: toda vez que você pegar ela no flagra fazendo uma merda dessas, pegue-a e coloque a cabeça dela embaixo da torneira do tanque e abra a torneira. Deixe a cabeça dela sob o jato d'água por alguns segundos, enquanto briga com ela. Depois solte e fique alguns minutos de mal. Pronto. Garanto que resolve!
A Sissil costumava atacar as pessoas, visitas inclusive, e ficou absolutamente curada dessa tara por meio do método da torneira (foi a Dani que me ensinou).
Vai funcionar com a Valentina também!!
Ah! E a Sissil ama passear!

Sarita Coelho disse...

Que peste!
Uma amiga minha veterinária está querendo me dar uma gata. Estou na dúvida, porque amo cachorros e estou louca para ter um canino em casa. Estava quase aceitando a idéia da gata, mas vou repensar. Depois dessa...

Nana disse...

Cata,
Os animaizinhos dentro do aquário podem até ser decorativos, mas não são nada interativos. Eu quero interação!!!

Vivi,
Vou tentar o truque da torneira. Coitada da valentina, vai viver de cabeça molhada! O problema é que eu não tô em casa quando ela faz a maioria das merdas...

Saritinha,
Não desiste do gato não. A Valentiná, apesar de bagunceira, é muito carinhosinha, um amor. E, como disse a minha irmã no comentário aí de cima, é porque ela é pequenininha, depois melhora. Além disso, eu dei uma exagerada pro post ficar mais engraçado, não foi tão ruim assim, só um pouquinho!

Renatinha disse...

Gato tem sexto sentido...
Eu sou fã dos meus cachorros, mas na ponta do lápis, minha vida seria bem mais fácil sem eles. O absurdo foi um dia em que chegou uma poltrona nova em casa.
Fui boazinha com os carregadores e fiz um cafézinho, em 5 minutos a Peteka roeu a poltrona que os carregadores tiveram que levar de volta para arrumar o forro pela bagatela de 280 reais por uma poltrona que ficou 5 minutos em casa. Depois que ela voltou do "conserto", em 30 minutos, foi a lateral dela embora. Hoje desisti da poltrona e acho que redes são muito cômodas para ver televisão, ler... e custam pouco! Plantas em casa? não sou louca.... sofá? mesas? cadeiras? detalhes....
Mas todo dia chego em casa e tem festinha surpresa só pra mim, fico feliz por ter minha vira-lata safada.
Dê uma chance para a Valentina, ela merece e vai retribuir... um dia.... bem distante... mas vai. bjs Re

Unknown disse...

Nana, faz bolinha de papel pra ela! Eles amam isso e cê não precisa gastar. Ou então amarra qualquer coisa num barbante e dependura num lugar pra ficar balangando....ih, eles se distraem horrores. Mas bolinha de papel é o top de linha!
E fala pro seu amigo Rapha não aceitar devoluções, viu!
Beijão

Nana disse...

Re,
Putz! Essa da sua poltrona foi f***! Doeu em mim. Acho que eu tinha desacostumado de filhotes. Minha cachorra, a Bruna, morreu no ano passado com 13 anos, há muito tempo não aprontava nenhuma bagunça.
A Valentina já tá retribuindo. Cada dia mais fofa essa minha filha!

Flavinha,
As bolinhas de papel já estão espalhadas pela casa toda e penduradas em todas as maçanetas.
Desisti de devolver meu anjinho. Não dou, não empresto e não vendo!

Ana Téjo disse...

Nana,
Suo suspeitíssima para opinar porque sou do time dos cachorros.
No seu lugar, eu já tinha transformado em tamborim no episódio do pano de prato. Mas torço pra vocês se entenderem.

Nana disse...

Ana,
Já estamos nos entendendo que é uma beleza!

Cláudia disse...

entre no meu blog e conheça as peripécias da Cindy Quebra-Barraco, para se consolar.
Não devolve não, logo vc se acostuma com a bagunça dela e elas são tão fofinhas e ronronantes....
beijo

Anônimo disse...

Por que nao:)