
Meu pai diz que televisão é máquina de fazer doido. Devido a essa filosofia paterna, não tínhamos TV em casa até os meus 12 anos. Isso em muito contribuiu com a minha atroz timidez na infância e pré-adolescência. Afinal, em meio a crianças televisivas no começo da era dos programas infantis comandados por louras, eu não podia dar muito pitaco em conversas relacionadas a desenhos animados. Não tinha idéia se a Xuxa batia ou não nas crianças que faziam figuração no programa, não sabia os jingles de propagandas, quais eram os últimos lançamentos em brinquedos, nem jogava videogame (Atari, lembram?). Só de férias na casa da vovó Liane, duas vezes por ano, é que eu e minhas irmãs nos interávamos desses assuntos.
Em compensação, nunca quis ser paquita nem entrar na nave da Xuxa. Em vez disso lia, lia muito. Ruth Rocha, Ana Maria e Maria Clara Machado, Lygia Bojunga, Zélia Gattai, Luis Fernando Veríssimo, José Lins do Rego, Alexandre Dumas, Maurice Druon, Coleção Vaga-Lume, João Carlos Marinho, Monteiro Lobato, Fernando Sabino, toda a coleção de Agatha Christie da minha mãe, as crônicas do Drummond, Jorge Amado, revistinhas da Mônica, Luluzinha, Pato Donald e tudo mais que caísse na minha mão. Lá em casa, nunca se economizou com livros.
Até que um dia, a máquina de fazer doido chegou. Foi aí que começou a minha mania de novelas. Via todas, inclusive a que passava de tarde – dessa, geralmente, só via o começo, esparramada na cama dos meus pais, pra puxar um soninho.
Na época de Viçosa, me afastei da TV. Tinha coisa muito melhor pra fazer. Aí me mudei pro Rio. No começo, morando na casa da minha vó, nova evolução: TV a cabo. Novos vícios: Friends, Sex and the City, Lost, Simpsons, Gilmore Girls, programas de decoração e culinária do GNT e People and Arts… Hoje em dia, morando sozinha, não tenho mais TV a cabo. Não admito pagar pra ver televisão.
Mas, com ou sem máquina de fazer doido, nunca abandonei meu vício pelos livros, que faz rombos nos meus bolsos. Mas é um dinheiro bem gasto, fundamental para preservar minha saúde mental. Estou sempre lendo pelo menos um e tenho uma reserva grande de livros ainda não lidos, pra não ter crise de abstinência. Aos autores já citados, juntaram-se na minha biblioteca Bukowski, a maravilhosa Rosa Montero, Pedro Juan Gutièrrez, Mario Vargas Llosa (que descobri recentemente, lendo o belíssimo Travessuras da Menina Má), Nelson Rodrigues, Patrícia Melo, Chico Buarque, Rubem Fonseca, Erico Veríssimo, Milan Kundera, Umberto Eco, Moacyr Scliar, Cony, Oscar Wilde, Ken Follet, uma lista que não acaba mais.
Será que se eu tivesse visto TV na infância meu amor pelos livros seria menor? Não sei. Talvez eu não fosse a fã número um da Ruth Rocha. Mas gosto de pensar que eu seria uma leitora compulsiva de qualquer jeito.